Muito se fala em Employee Experience hoje em dia, aumentar engajamento e bem-estar no ambiente corporativo se tornou meta para muitas companhias. Ao mesmo tempo, alguns temas relevantes quando abordados, ainda geram certa “estranheza”.

Por mais que avancemos nas discussões corporativas, muitas pessoas opinam sobre assuntos os quais ainda não pararam para refletir de verdade sobre os impactos que estes causam dentro e fora do ambiente de trabalho. A licença paternidade é um dos casos! Falar que um homem ficará ausente do trabalho para cuidar do filho ainda parece “too much” para alguns lugares.

Esse tema me gerava curiosidade e fui atrás para ler e pesquisar sobre como os profissionais se sentiam em relação a isso e, do ponto de vista corporativo, como uma empresa tratava o tema. Confesso que tenho me surpreendido como o engajamento nas empresas e, inclusive, a diminuição do absenteísmo diminui quando a licença paternidade é apoiada dentro da companhia. Os resultados aparecem, as empresas ganham e melhor que isso, os pais e principalmente as crianças ganham com isso!

Para explorar esse assunto junto comigo, convidei o Felipe Pontual, criador do Blog SONHEI SER PAI, que deu uma aula sobre o tema. Esse paizão nos mostra o outro lado e nos faz pensar em como esse tema merece atenção!

 

Perguntas para Felipe Pontual:

1- Como você, pai e profissional, vê a licença paternidade? É muito difícil falar sobre licença paternidade sem cair em um clichê que sempre gosto de lembrar: precisamos falar sobre isso. Assim como vários outros temas dentro do mundo da paternidade e também da maternidade, esse é um assunto sobre o qual pouco falamos ou ouvimos falar durante nossa infância/juventude. Gestação, parto, primeira infância, criação de vínculo, licença paternidade… por que será que falamos com tão pouca naturalidade sobre os momentos mais naturais da nossa vida? Mesmo sendo mais um que nunca parou para pensar ou falar sobre isso, eu pude mergulhar nesse mundo a partir do segundo em que descobrimos (eu e Ana, minha mulher) que estávamos grávidos. A partir daí levantei uma bandeira que nunca mais vai abaixar. Hoje, como pai e profissional de um mercado louco e desafiador como o de eventos, vejo a licença paternidade como um misto de necessidade e desafio. Uma necessidade descoberta tardiamente, é verdade, pois demoramos muito para entender o nosso real papel na família. E um desafio porque tudo isso ainda está só começando: esse processo passa por um aprendizado gigante, principalmente por parte de nós homens/pais, que vamos dando os primeiros passos nessa busca por igualdade e reconhecimento do papel que realmente devemos desempenhar nessa história. Hoje vivemos o começo de uma onda de iniciativas importantes nesse sentido. Falar de licença paternidade ou maternidade não deveriam ser coisas diferentes. No final estamos falando de licença parental, uma necessidade em respeito à equidade e a toda diversidade familiar. Precisamos aproveitar esse momento para fortalecer esses movimentos e dar força e voz à essas empresas, instituições e pessoas que estão tendo a coragem de liderar o começo dessa revolução.

 

2- Quais os impactos que a presença ativa do pai pode gerar na primeira infância da criança? Acredito que a presença ativa de um pai na vida de um filho faz toda a diferença na vida de ambos. Quando falamos da primeira infância, falamos de uma fase onde tudo está sendo criado e experimentado do zero. Enquanto um novo ser está conhecendo um mundo de novas sensações, um homem que se torna pai – seja pela primeira vez ou não – está mergulhando em um mundo de novos sentimentos e relações. Participar e aproveitar da primeira infância de uma criança é ter a oportunidade de compartilhar todo esse aprendizado. Cada minuto junto significa fortalecer um vínculo único que é criado a partir daí. Fico muito feliz quando hoje ouço vários pais orgulhosos em contar que dentro da rotina estão situações como ‘sou sempre eu que dou o banho no meu filho’, ou ‘fazer meu filho dormir é sagrado pra mim todas as noites’. Por mais simples que sejam, temos que nos dedicar a essas iniciativas pra que esses laços sejam criados e fortalecidos desde cedo. Tenho certeza de que cada detalhe de carinho e proximidade nesse começo de relação pode fazer muita diferença na infância e na evolução da criança. Lembrando também do quão fundamental é nessa fase a presença e participação ativa do pai na casa como um todo, cuidando das tarefas de casa e de tudo o que circunda esse mundo de transformações que a mãe está vivendo.

 

3- O mundo corporativo ainda não está tão familiarizado com a licença paternidade, por que isso ainda é um tabu? Acho que esse é um tema tabu em toda a sociedade. A falta de hábito e costume em falar sobre isso acaba dificultando todo o processo de tornarmos a licença paternidade uma coisa tão ‘normal’ e necessária como a licença maternidade. Vejo iniciativas incríveis nesse sentido, mas elas ainda geram muita discussão. Enquanto já vemos empresas referências falando de licença parental, sem distinções entre maternidade e paternidade, mas sim respeitando a diversidade familiar, a dura realidade nos lembra que por lei um pai tem direito a 5 dias (!) com sua família após o nascimento do seu filho.

Por outro lado, vejo por nossas próprias atitudes o quão desafiador é esse processo de familiarização. Sempre que leio ou ouço sobre essas iniciativas, vejo que é comum encontrar tanto homens como mulheres questionando a real eficácia de se oferecer um tempo maior de licença para os pais. Já li muitas opiniões contrárias com a justificativa de que ‘o aumento da licença paternidade significa mais tempo de férias para o homem aproveitar a vida’. Triste, mas infelizmente essa é a verdade nua e crua. E esse tipo de desconfiança só dificulta a aceitação e incentivo a qualquer iniciativa de uma empresa que possa querer colocar em prática algo nesse sentido. Ainda estamos engatinhando em um caminho longo, mas tenho fé de que chegaremos lá. Tornar esse tipo de assunto comum em nossas vidas e rodas de amigos vai torná-lo comum também no mundo corporativo. Precisamos de lideranças e exemplos que nos guiem nessa mudança de cultura.

 

4- Os homens ainda têm vergonha de falar sobre o assunto? Não acho que vergonha seja o termo exato, mas sim insegurança. Não nos sentimos seguros em falar sobre algo sobre o qual nunca pudemos ou fomos estimulados a falar antes. Além disso, acho que essa acaba sendo uma necessidade que aprendemos e conhecemos apenas no momento em que a sentimos. Passamos anos sem pensar em licença paternidade, até o momento em que estamos prestes a viver a coisa mais incrível da nossa vida e nos damos conta: “Espera aí, sério que vou ter só cinco dias pra ficar em casa com minha família?!”

Então reforço e insisto mais uma vez que o caminho é falar mais sobre isso. Você não precisa ser pai para se solidarizar com esse tipo de situação. Está na hora de abraçarmos nossos amigos e suas lutas, pra levar essa consciência cada vez mais longe. Hoje está cada vez mais comum encontrar rodas de homens discutindo a masculinidade como um todo, além da paternidade. É emocionante poder trocar e falar sobre esses temas, sentindo que não estamos sós nesse caminho. O movimento já está acontecendo, cabe a nós buscarmos e criarmos essas conexões pra poder dar cada vez mais relevância ao tema.

 

5- Quais os benefícios que uma empresa pode ter quando oferece uma licença

paternidade estendida? Colocar em prática uma licença paternidade estendida é uma iniciativa corajosa que vai muito além de simplesmente oferecer um benefício a seus colaboradores. É um ato de preocupação e posicionamento perante a sociedade, que sem dúvida trará impactos positivos na imagem da empresa tanto para os que estão diretamente relacionados a ela como para o mercado como um todo. Essa é a hora de aparecerem os que inovam e tomam as iniciativas – e que espero que no futuro sejam lembrados como os que deram início a toda essa revolução. Acho que vale lembrar que oferecer uma licença paternidade estendida também não é filantropia. Em termos práticos, essa é uma iniciativa que com certeza pode trazer retornos altamente positivos à empresa em termos de rendimento do colaborador, além do seu engajamento, confiança e satisfação que com certeza serão fortalecidos nessa relação.

 

6- Que tipo de informações e ações podemos aderir para mostrar a importância e relevância desse tema? Acho que o mais importante é buscar trazer esse tema para o nosso dia a dia. Buscar informações que nos ajudem nessa conscientização e também valorizar tanto os que falam sobre e levantam essa bandeira, quanto as referências positivas que vemos por aí. Ouviu um podcast legal sobre masculinidade e paternidade? Mande para o seu grupo de amigos, mesmo que a maioria deles ainda não seja pai. Viu uma empresa legal oferecendo licença paternidade estendida aos seus funcionários? Leve esse exemplo para a próxima roda de conversa com seus amigos. E bom… se chegou a sua vez de mergulhar nesse mundo, não deixe de ler e acompanhar as notícias e iniciativas que surgem sobre essa nova geração que busca exercer uma paternidade mais ativa. A participação de todos é fundamental!

 

7- O que todo homem deveria saber sobre licença paternidade? Como podemos ajudar e incentivar que os pais se posicionem em relação ao tema? Todo homem deveria saber os seus direitos no momento de viver o nascimento do seu filho. Infelizmente só buscamos esse tipo de informação na hora da necessidade, então minha sugestão é que busquem sempre mais conhecimento sobre esse tema. As leis não são claras, mas resumindo o que temos no Brasil hoje é o direito a licença paternidade de 5 dias em razão do nascimento do filho sem que haja desconto da remuneração. Algumas poucas empresas – as que aderiram ao ‘Programa Empresa Cidadã’, criado em 2016 – oferecem 20 dias. E outras, por iniciativa própria, como é o caso de grandes marcas como Facebook, Twitter, LinkedIn, Diageo, Spotify, Sanofi, entre outras, que chegam a oferecer 6 meses aos pais. Voltando à nossa triste realidade, acho que é consenso que estamos muito aquém do ideal, certo? Por isso é a hora de trazermos essas discussões para o nosso cotidiano. Pesquisar, buscar conhecimento, ouvir e dar opiniões. Valorizar boas referências e quem está dando bons exemplos. Existem muitas pessoas falando coisas muito legais sobre isso – blogs, sites, podcasts, perfis em todas as redes sociais. Saber mais e tornar esses assuntos mais comuns é o que nos permitirá nos posicionarmos em relação ao tema seja para falar sobre isso com nossos amigos ou também em nossas empresas. Teremos uma sociedade mais igualitária quando as mulheres não precisarem ter medo quando questionadas em uma entrevista de emprego se querem ou não ser mães. Os números de demissões pós-licença maternidade são alarmantes, e tudo isso que estamos falando tem como objetivo que a geração de nossos filhos não tenha que passar por isso. O ciclo é real e urgente: precisamos deixar um mundo melhor para os nossos filhos, e também filhos melhores para o mundo. Não percamos as esperanças. Vamos olhar pelo lado de que estamos tendo a oportunidade de participar e viver tudo isso. Está na nossa mão começar a falar mais sobre esses temas, e garantir que esse movimento só cresça. Pais e Mães, seguimos juntos pois o movimento está só começando!

 

Observar essas mudanças é primordial para criarmos impactos positivos. De nada adianta focarmos em um bom ambiente de trabalho, se não entendermos que o bem-estar do ser-humano é importante e significativo. Falar de temas novos e que nos tiram da zona de conforto faz parte de um crescimento sustentável e benéfico para todos os lados. Enquanto pensarmos que essas questões são “revoluções” que não dão dinheiro, teremos cada vez mais profissionais desistindo do ambiente corporativo.

 

Pra mim, pensar nesses temas são fontes de inspiração para gerar ambientes melhores, pessoas mais satisfeitas, maiores resultados, mais dinheiro no bolso e ainda de quebra uma sociedade melhor! 😉

 

E ai? com quem você vai falar sobre paternidade hoje?