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CARREIRAS QUENTES Pesquisa da consultoria Robert Half, divulgada com exclusividade aponta as competências, os cargos e os salários que estarão em alta em 2019. Ainda que o número de desempregados no Brasil esteja na casa dos 13 milhões e a crise econômica não tenha passado de vez, alguns indícios (ainda tímidos) apontam para a retomada. O Banco Central estima que a economia brasileira crescerá 1.49% em 2018, porcentagem 50% maior que a verificada no ano anterior. Isso se reflete no mercado: nos sete primeiros meses deste ano, o número de vagas repassadas para a consultoria de recrutamento Robert Half de São Paulo, cresceu 40 % – algo expressivo e bastante superior ao último ano, em que as oportunidades criadas cresceram 17,7%. Segundo Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half no Brasil, o aumento de volume está em posições estratégicas de empresas que já vislumbram uma melhora no próximo ano. “As vagas temporárias e as contratações por projetos, frutos da mudança da CLT, também entram nessa coleta”, explica. O Guia Salarial da consultoria para 2019, divulgado com exclusividade por sinaliza estabilidade em termos de remuneração. “Com mão de obra disponível no mercado e a preocupação com os custos no radar, as companhias têm achatado ou mantido os benefícios, salvo em casos específicos, diz Fernando. Para ter uma ideia, de acordo com o levantamento da consultoria, 60% dos trabalhadores que perderam o emprego nos últimos três anos aceitaram ganhar menos do que no trabalho anterior ao se recolocar. Conheça onde estão as melhores oportunidades nos próximos tópicos. FINANÇAS E CONTABILIDADE – Hora da retomada Nos últimos anos, os profissionais de finanças tiveram o papel de ajudar no ajuste das contas (demanda da crise financeira) e as empresas buscavam pessoas focadas na melhoria de processos e renegociação de dívidas. Agora, com o cenário menos nebuloso, as companhias voltam a atenção para funcionários capazes de gerar novos negócios. “A visão de olhar para dentro de casa é substituída por buscar oportunidades no mercado,” diz Danylo Hayakawa, gerente sénior de recrutamento da Robert Half. A demanda é por aqueles que vão além da área de suporte, – os departamentos de compliance e auditoria continuam em alta. “No passado houve uma juniorização nas cadeiras e agora há uma retomada da busca por mais experientes, diz Marcela Esteves, gerente de recrutamento da Robert Half. Encontrar empregados capacitados é um desafio para 77% dos gerentes de recursos humanos ouvidos pela consultoria. “Direcionar as oportunidades para as posições mais próximas da área comercial ainda é o desafio. Entre as competências estão a facilidade de comunicação e de traduzir números”, afirma Saulo Ferreira, gerente de recrutamento da consultoria. MERCADO FINANCEIRO – Cada vez mais digital Conhecido por ser um mercado técnico e tradicional, o setor financeiro passa por um momento de disrupção com o digital invadindo as instituições. São observadas duas tendências: o avanço das fintechs e o esforço dos grandes bancos em criar canais inovadores. Para ter uma ideia, em 2017 as startups do segmento financeiro movimentaram mais de 400 milhões de reais em investimentos, de acordo com um monitoramento feito pelo Conexão Fintech. Com a mudança no mercado, altera-se o tipo de profissional requerido. “Surgem novos cargos como corretores de criptomoedas e gerentes de experiência do usuário, por exemplo”, diz Ricardo Rochman, professor da FGVEAESP (Escola de Administração de Empresas de São Paulo). Para acompanhar as mudanças, os trabalhadores devem buscar aperfeiçoamento. “O domínio do inglês e habilidades comportamentais, como comunicação, visão de negócios, curiosidade e versatilidades essenciais”, diz Alexandre Artauah, gerente sênior de recrutamento da Robert Half. Ainda que a área digital seja a responsável pelo maior número das contratações, os sinais de retomada da economia sugerem demanda por vagas mais tradicionais, como nas equipes de crédito, comercial e em posições regulatórias. SEGUROS – Um novo mercado Em seguros, o movimento é bastante parecido com o de mercado financeiro e a parte digital ganha destaque. A aprovação da Resolução nº 359 do Conselho Nacional de Seguros Privados, que permite a uma seguradora ser 100% digital, está revolucionando o segmento com a chegada das chamadas Insurtechs, startups especializadas em seguros, que prometem levar simplicidade, acessibilidade e personalização aos clientes. Com a abertura de mercado e a atuação das resseguradoras, que negociam diretamente com o consumidor final, surge a necessidade de profissionais com conhecimento técnico na área. “Para posições mais gerenciais, as empresas pedem um perfil empreendedor, capaz de oferecer ideias que acelerem o crescimento do negócio”, afirma Alexandre, da Robert Half. Além disso, como as equipes tendem a ser reduzidas, as insurtechs buscam uma pessoa multitarefas, proativa e que trabalhe de maneira independente. JURÍDICO – Rumo à tecnologia Náila Nucci, coordenadora pedagógica da Faculdade de Direito da Faap, descreve a área jurídica como binômia. “Seja em momento de crise ou de bonança, profissionais do setor sempre serão demandados. Ou para a dissolução de empresas ou para contratos de novos negócios”, diz. E agora o mercado se volta para o lado mais otimista. Com a melhora gradual da economia, corporações e escritórios buscam pessoas capazes de ajudar a gerar novos negócios, com um perfil mais comercial e senso de dono. “Além disso, temos o advento da tecnologia abraçando a sociedade e precisamos de gente capacitada para legislar acerca disso,” diz. As lawtechs, termo utilizado para denominar as startups jurídicas, deverão ganhar força no país no próximo ano. Com a terceira maior população de advogados do mundo, é tempo de revisar o perfil. Maria Eduarda Silveira, gerente de recrutamento da Robert Half, afirma que é preciso se preparar tecnicamente para a mudança. “A tecnologia vem para colaborar com o departamento jurídico das empresas e dos escritórios, mas trará muitas alterações de processos”, diz. Enquanto isso, as áreas de fusões e aquisições e governança corporativa seguem contratando mais. TECNOLOGIA – Saindo de trás das maquinas A tecnologia permeia quase todos, se não todos, os setores de uma companhia. Por isso, o profissional precisa ser cada vez mais dinâmico. “Se antes pensávamos neles como os mais ‘nerds’, que não saíam de trás do computador, agora devem ter competências comportamentais afloradas e colaborar diretamente com a estratégia de negócio da empresa”, diz Marcello Nitz, pró-reitor acadêmico do Instituto Mauá de Tecnologia. Para ajudar a desenvolver essas habilidades, universidades e empresas têm investido em capacitação e treinamentos para assegurar a formação do melhor time. Entre as áreas de destaque aparecem a de proteção de dados, analistas de business inteligence (BI), com foco em análise de mercado e ETL (um processo de extração e leitura de dados), e desenvolvedores não só voltados para design, mas para toda a experiência do usuário. Muitas dessas contratações estão acontecendo por projetos. VENDAS E MARKETING – Dados para decidir A área de marketing sofreu uma grande mudança nos últimos anos. Antes, as agências de publicidade eram responsáveis por criar conceitos que ajudavam nas vendas. Hoje, segundo Marcos Bedendo, professor de pós-graduação da ESPM, as empresas criam sua identidade e as agências a divulgam. “Por isso, quem atua com marketing precisa cruzar dados para fazer a diferença nos negócios”, diz. E o digital surge com força para ajudar nessa tarefa. “Existe busca por habilidades voltadas para mídias sociais e ferramentas de marketing digital”, diz Carolina Cabral, gerente sênior de recrutamento da Robert Half. Como o momento é de cobrança por geração de receita, destacam-se as posições que trazem negócios, como as de key acccont e gerente de vendas. ENGENHARIA – Desengavetando projetos Na engenharia, o cenário é de melhora gradual. “Há criação de vagas e contratações que estavam aguardando a retomada”, diz Maria Sartori, gerente sênior de recrutamento da Robert Half. A área de vendas é uma das que mais se destacam e a que demanda gente com alto nível de especialização e conhecimento do produto. Marcello Nitz, pró-reitor do Instituto Mauá de Tecnologia, destaca que isso é difícil de ser encontrado. “O engenheiro costuma ser contratado pela competência técnica e demitido pelas atitudes”, afirma. “Por isso, oferecemos algumas aulas, como de teatro e oratória, para que eles desenvolvam habilidades comportamentais.” Entre os setores mais promissores, o reitor destaca eletrônica, produção e indústria automotiva.