O sonho de muitas pessoas é fazer uma carreira internacional. Ter a oportunidade de morar no exterior, vivenciar experiências em outro país, aprender ou aprimorar um novo idioma e ainda por cima ganhar bagagem profissional e dim dim (em moeda estrangeira) é algo que enriquece a vida profissional e pessoal de qualquer um.

Hoje em dia, com a tecnologia e a capacidade de se conectar com qualquer lugar do mundo, muitos dizem que não é necessário mais morar fora do país para obter tais conhecimentos, por outro lado, a vivência internacional enriquece não somente o CV, mas também agrega demais do ponto de vista pessoal. Viver em uma nova cultura pode te ensinar a lidar com diferentes situações (boas e nem tão boas) que contribuirão diretamente para o seu crescimento pessoal.

Outro ponto relevante é a rica troca de costumes, idiomas, diversidade cultural e de mindset envolvida nesse tipo de experiência. As empresas também ganham muito com essa troca, onde se expande o conhecimento e abre espaço para novas ideias. O intercâmbio de funcionários também influencia no engajamento da empresa globalmente falando e pode auxiliar diretamente na retenção dos profissionais daquela companhia.

Tendo em vista esse cenário, convidei a Stéfanni Fernandes, Recruiter da McKinsey & Company, para contar um pouco da sua experiência. A Sté (que por uma linda coincidência da vida, é minha cunhada 😉) entrou na empresa há cerca de três anos atrás, e no ano passado, teve a oportunidade de se mudar para a Califórnia para continuar seu trabalho de recrutadora lá. Aqui ela conta um pouco sobre os caminhos para fazer essa mudança, as burocracias, forma de trabalho e de vida e o principal: o que ela tem aprendido com tudo isso!

 

Bate- papo com a STÉ:

 

  • Como identificar uma oportunidade internacional dentro da sua empresa? Eu começaria buscando pelos canais mais tradicionais da empresa – muitas empresas possuem uma intranet onde postam posições internas, nas quais você pode se aplicar diretamente. Isso te permite saber melhor sobre a posição, os requisitos, a estrutura do time. Outra possibilidade é fazer uma busca ativa, procurando por países e escritórios teriam posições do seu interesse. Nessa hora é importante ativar seu networking interno, conversando com pessoas chave que te ajudem a saber mais sobre essas oportunidades e que talvez possam te conectar com os responsáveis pelas posições.

 

  • Seu time local pode se incomodar com a sua possível migração? Como isso é visto dentro da companhia? Acredito que cada cultura corporativa é diferente e algumas empresas têm mais abertura do que outras para este tipo de mudança. Acredito que o desconforto pode vir pela insegurança de perder uma pessoa no time e por isso é importante planejar da melhor forma e com o máximo de antecedência possível essa transição – seja, por exemplo, se comprometendo ajudar na reposição da sua vaga, treinando uma nova pessoa. Todo alinhamento auxilia para que essa transição seja com menos ansiedade e impacto possível.

 

  • Há muitas burocracias para conseguir trabalhar fora do país? Uma outra burocracia que impacta qualquer mudança internacional é o visto, que também vai variar conforme o tipo de posição e o país para onde você for. Geralmente pode depender do tipo de transição e de como cada empresa lida com isso – sendo uma rotação temporária, ou uma vaga permanente, e como isso implica em burocracias internas diferentes.

 

  • Testes de inglês são necessários? Como as pessoas devem se preparar para trabalhar em outro idioma? Testes de inglês podem ser requisitos para algumas empresas, então toda preparação é válida. Considero que é importante você descobrir qual a melhor forma para você – seja fazendo aulas em escola ou aulas particulares, tudo pode te ajudar a se sentir mais preparado. Mas com certeza o maior aprendizado, será no dia-a-dia! Uma vez que você está em contato direto com a língua, a rapidez da sua adaptação é cada vez maior. Outro ponto importante é não se cobrar tanto! Trabalhar em outro idioma te exige um esforço diferente do que você faz em sua língua nativa e é muito comum você se frustrar por não conseguir passar a mensagem exatamente como você passaria na sua língua. Por isso, aulas de conversação e leitura podem auxiliar muito, mas é essencial que você acolha o fato de que aquela não será a sua principal língua e você pode cometer erros – e está tudo bem! O importante é passar a mensagem e continuar se esforçando. Cada dia você vai se sentir melhor, mais confiante, mas não deixe de expor o que pensa por conta da língua.

 

  • Como é trabalhar fora do Brasil? Existem muitas diferenças culturais mesmo estando na mesma empresa? Acho que diferenças culturais vão sempre existir, mesmo estando na mesma empresa. Você aprende desde como aquela cultura entende conceitos como eficiência no trabalho até horário de almoço. E estar aberto a entender e se adaptar a uma nova cultura, é muito importante para não se frustrar nesse mundo novo que se abre para você.

 

  • Posso abordar minha vontade de trabalhar fora pela empresa já no processo seletivo? Existe um tempo ideal de casa para isso? Acredito que depende do quanto você já sabe que a empresa tem esse tipo de mudança como um processo comum na carreira dos seus funcionários. Conversando com pessoas que trabalharam lá você pode ter esse tipo de informação antes e entender se seria um fator interessante para trazer já no processo de seleção ou se seria melhor esperar completar um primeiro ciclo de avaliação para trazer esse ponto, por exemplo. De maneira geral, empresas pedem este primeiro ano de experiência para uma mudança, mas isso realmente varia de cada lugar e quanto mais informação prévia você tiver sobre aquela cultura corporativa, melhor para você se programar.

 

  • Como o brasileiro é recebido? De forma geral, sinto que o brasileiro é bem recebido, e bem reconhecido pelo jeito socializável e receptivo de ser. Mas com certeza, cada cultura lida de um jeito.

 

  • O norte-americano é tão produtivo e eficiente quanto ouvimos falar? O que podemos aprender com eles? Na minha percepção o norte-americano separa bem o lado profissional e o lado pessoal. Ele no geral, está no trabalho focado em cumprir suas tarefas e poder ir para casa. Uma curiosidade é que ele tende a não “perder” tempo com almoço, geralmente almoça em 15 minutos, inclusive na própria mesa, para conseguir fazer o que tem que fazer e ir embora mais cedo.

 

  • Quando você faz uma autoavaliação, o que acredita que mais evoluiu nesse primeiro ano trabalhando nos EUA? Acho que acreditar mais na nossa capacidade de adaptação e perder o medo de errar. Quando me mudei e percebi que nada mais era “natural”, como a língua, o senso de humor/ironia, a forma como você paga uma conta num restaurante ou a forma de escrever um e-mail no trabalho. É um exercício diário para lidar com o fato de que nada mais é a sua zona de conforto. E ao mesmo tempo, cada vitória merece ser celebrada. Seja cada fim de reunião que você percebe que saiu mais confiante, a uma piada no trabalho que você conseguiu pegar rápido.

 

  • Quais dicas você poderia dar para quem quer ter uma experiência internacional na carreira? Por onde começar? Primeiro entenda bem quais são suas prioridades nessa mudança – quais vagas você gostaria de ocupar, os países que iria, por quanto tempo etc. Tendo isso mais claro, procure os melhores caminhos para essa mudança – pela sua empresa, fazendo um MBA, ou buscando uma posição nova. E por fim, converse com pessoas que podem te ajudar. Se puder ser pela sua empresa – busque os contatos e alinhe com o seu time a melhor forma de fazer isso, ampliando sua rede de contatos e de apoio para a mudança.

 

A carreira internacional não precisa ser vista como algo inatingível. Obviamente, requer preparo e dedicação, e claro, estar em uma empresa aberta a isso. Multinacionais, geralmente, oferecem mais oportunidades nesse sentido e é necessário entender as especificidades e requisitos que cada empresa possui.

Se você quer ter uma oportunidade fora do país e sua empresa não possui incentivos para isso, seria interessante numa próxima oportunidade, investir em projetos e empresas que em algum momento possam te oferecer esse tipo de experiência.

Espero que vocês tenham gostado desse artigo e que, de alguma forma, possa ser útil para você refletir sobre essa possibilidade e quais caminhos deve seguir, caso essa seja uma vontade sua.

 

VIVA O MUNDÃO!